Catuaba e Lingua Roxa

Esse troço tá me deixando pobre. Melhor suspender. E dá uma ressaca.

13.8.09

Crônica - Depoimento de um Viciado

Depoimento de um viciado


Tudo começou como uma coisa normal. Era uma dose pela manhã, as vezes uma dose depois do almoço. Dava um certo animo e eu acreditava que não poderia fazer mal. Depois veio o emprego, e eu o usava para me manter estimulado. Quando não o usava sentia falta.
Em pouco tempo as doses foram aumentando, o que causava tremores e alterações no metabolismo. Eu tinha vontade a toda hora e era tão fácil. As vezes os amigos consumiam comigo inclusive no trabalho. Era sempre a deixa pra jogar uma conversa fora, dar uma parada no serviço pra descansar.
Com o tempo comecei a ter problemas para dormir, o que me fazia também ter problemas para acordar. Passava os dias sonolentos e tomando doses para me animar. E a situação foi piorando consideravelmente. A coisa toda começou a interferir no meu trabalho e na minha vida pessoal. Andava irritado o tempo todo, não prestava atenção direito nas coisas e não conseguia me manter pontual aos horários.
Minha namorada não suportou e me deixou. Ela disse que não podia conviver comigo daquela forma. Que eu precisava mudar. Depois devido aos problemas de relacionamento no trabalho pela irritação constante e os atrasos pela manhã, a sonolência forte durante o dia e etc, acabei sendo demitido.
Não conseguia parar. E não tinha nada que pudesse me ajudar. Quando eu conversava com as pessoas sobre esse problema elas riam de mim. E ele sempre estava sempre ali em casa, esperando ser consumido. E eu continuava consumindo-o. O dinheiro foi acabando e eu não conseguia trabalhar pois não conseguia me manter acordado nos horários comuns. Alem disso ninguém queria dar emprego a alguém que sempre andava mal humorado.
As coisas foram piorando, comecei a vender as coisas de casa poder me manter e manter meu vicio. Primeiro foi o rádio, depois a TV, os livros, a estante. Tudo sendo consumido para me manter alimentado e com essa droga. Até que não havia mais o que vender. E veio o golpe mais baixo. Fui despejado. Virei morador de rua.
Pedia dinheiro nos sinais as pessoas para comprar minha droga. E nem precisava mentir. Eu só dizia que queria para comprar ela e um pão. E algumas pessoas davam. É o maior problema das drogas licitas. Como não existe preconceito as pessoas não se incomodavam. Comecei a emagrecer, a saúde debilitando até que tive uma sincope na rua.
Fui parar no hospital. A taquicardia cada vez mais freqüente me fez ter um principio de infarto. E ai finalmente obtive ajuda. Na alimentação do hospital fui proibido finalmente de consumir minha droga. Tive crises de abstinência e o médico do hospital não acreditou quando eu disse que não suportava ficar sem café. Mas devido o meu estado de saúde eu realmente não podia tomar café de forma alguma. E com muito sofrimento e ajuda hoje me livrei deste maldito vicio. Hoje estou livre da cafeína seja na forma de café, coca-cola, mate, guaraná ou qualquer outra coisa. Fundei uma organização para ajudar os viciados em café para que eles nunca tenham que passar pelo que passei. E voltei a ter uma vida normal.

José Carlos Costa
Ex-viciado em cafeína.
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